'Jogo duplo' e 'roupa suja se lava em casa': apoio vacilante de Bolsonaro a Nunes gera fissura na direita
Oficialmente no palanque do prefeito de SP, ex-presidente evitou críticas diretas a Pablo Marçal
A postura de Jair Bolsonaro (PL) durante o primeiro turno das eleições municipais gerou atrito entre aliados que, pela primeira vez, fizeram críticas públicas mais contundentes à estratégia do ex-presidente. O movimento é encabeçado por lideranças como o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e o presidente do PP, Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil.
Ferrenho defensor de Bolsonaro e organizador de manifestações do ex-presidente com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), Malafaia relata ter se incomodado com o “jogo duplo” feito nas eleições de São Paulo.
'Metralhadora'
Bolsonaro tentou minimizar as críticas de Malafaia e disse que não iria guardar mágoas do aliado:
— Eu amo o Malafaia. Ninguém critica mulher feia. Ele ligou a metralhadora, mas isso passa.
Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) criticou, em nota, a exposição de uma crise interna. Ele ainda defendeu que seu pai fez o que era necessário naquela conjuntura. “Roupa suja se lava em casa, e não em público. O presidente Bolsonaro fez o que tinha que ser feito, no momento certo, e foi decisivo para o cenário em São Paulo. Se não fosse Bolsonaro, Ricardo Nunes não estaria no segundo turno”, diz um trecho da nota. O vereador Carlos Bolsonaro (PL) evitou atacar Malafaia, mas disse que ele está “atacando de forma absurda” seu pai.
Na avaliação da cientista política Luciana Santana, da Universidade Federal de Alagoas, as críticas são reflexo de uma direita que agora entende que não depende mais da figura de Bolsonaro.
— A presença de Marçal em São Paulo mostrou que nem todo mundo segue a liderança de Bolsonaro, e o que o ex-presidente fez com Nunes, de não se posicionar, depõe contra ele. Teve um avanço da direita no Brasil, mas ela é heterogênea. As críticas surgem no intuito de sinalizar que outras alternativas existem.
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), disse ter ficado incomodado com a falta de apoio de Bolsonaro a candidatos de fora do PL:
— Bolsonaro errou. Ele tem o direito de apoiar quem quiser, mas restringiu muito seus candidatos ao decidir estar apenas junto com o PL. O principal critério deveria ter sido se a pessoa votou nele em 2022 e não o partido .
Dentro de seu partido, a cidade que gerou as maiores rusgas foi Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, onde o PP é presidido por uma outra ex-ministra de Bolsonaro, Tereza Cristina.
No município, o ex-presidente escolheu apoiar o tucano Beto Pereira e ainda indicou Coronel Neidy para compor a chapa que terminou em terceiro lugar na disputa. A aliança foi amplamente criticada por bolsonaristas. Inconformado, o deputado federal Marcos Pollon (PL) chegou a se colocar à disposição da sigla para concorrer.
O segundo turno será disputado pela prefeita Adriane Lopes, do partido da ex-ministra, e Rose Modesto (União). Logo após o resultado, em coletiva de imprensa, Tereza Cristina alfinetou seu aliado, ao dizer que buscaria seu apoio, mas pontuando sua falha:
— Eu vou para Brasília amanhã à noite. Provavelmente a gente vai se ver essa semana. E eu vou dizer para ele: presidente, o senhor errou.
Para explicar a insatisfação de aliados, o historiador
Michel Gherman, especialista em extrema-direita e professor da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, recorre a um conceito de Max Weber, o da liderança
carismática, pautada por apenas um indivíduo:
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