Desiludidos com a refinaria, empresários batem em retirada.
Retirada do (Jornal Pequeno)
Com a declaração do ministro Edison Lobão (Minas e Energia), na
quinta-feira (21), em São Luís, de que a previsão para o início da
operação da refinaria Premium I, em Bacabeira, ficou para outubro de
2017 – daqui a quatro anos e sete meses –, os poucos empresários
instalados recentemente na região que ainda acreditavam no 'Eldorado'
representado pelo megaempreendimento estão batendo em retirada.
Alguns deles já haviam tomado a decisão de ir embora antes mesmo da fala
de Lobão, mas agora – apesar de o ministro apelar, na quinta, para que
os empresários continuassem 'acreditando na refinaria' – a debandada é
geral.
Um dos que partem desiludidos é Nilton Santos, de 51 anos,
que veio do Rio de Janeiro e investiu em Bacabeira mais de R$ 300 mil
numa loja de equipamentos de proteção individual (EPIs), num centro de
treinamento e numa clínica de medicina do trabalho.
Nilton – que
ajudou a criar a Associação Comercial de Bacabeira, da qual se tornou
diretor financeiro – vai retornar ao Rio. 'Pode ser até que a refinaria
saia, mas eu não vou poder esperar. Mudei para Bacabeira na época da
euforia pelo projeto, em 2010. Em 2011, instalei as empresas,
acreditando no prazo inicial que deram, 2014. Depois vieram as
postergações, 2016 e agora 2017. Não vou aguentar esperar esse anos
todos', disse Nilton ao Jornal Pequeno.
O empresário afirmou,
ainda, que no período de tempo que está em Bacabeira, acumulou dívidas –
aluguel das salas onde funcionariam as empresas, principalmente –, e
agora está vendendo o que pode para quitá-las. 'Não estou frustrado, mas
chateado. Não contava com esses adiamentos', afirmou o empresário.
Como Nilton, outras dezenas de empresários estão tentando passar para frente o que implantaram e dando 'meia volta, volver'.
Na mesma área de comercialização de equipamentos de proteção
individuais, outra empresa – a Bacabeira EPI, de São Luís, que também se
instalou na cidade em 2011 – igualmente está de saída.
Outro que
não aguentou as mudanças de prazos para o início do funcionamento da
refinaria foi Evilásio Nascimento Castro, 46, também de São Luís. Ele
gastou mais de R$ 150 mil para implantar a Autoescola Unidas em
Bacabeira – a primeira da cidade –, em 2011. Em janeiro passado, no auge
dos comentários sobre a indefinição da Premium I, ele transferiu o
empreendimento para a capital.
Diferentemente de Nílton Santos, Evilásio tem certeza de que a refinaria é 'coisa do passado'.
'Não vai sair. Foi uma obra política. Agora, estão tentando empurrar com a barriga', disse Evilásio ao JP.
Também se prepara para fazer as malas gente que investiu em moradias
(quitinetes) e hotéis, comprando terrenos que em certos casos
quintuplicaram o valor após janeiro de 2010 – quando o ministro Lobão, a
governadora do Maranhão Roseana Sarney, o então presidente Lula e sua
ungida Dilma Rousseff posaram para a famosa foto, em cima de um trator,
em Bacabeira.
Hoje os locais estão entregues às moscas, conforme
constatou o JP, e os donos – pequenos e médios empresários que evitam
falar sobre a situação – têm dificuldade de custear até a manutenção dos
empreendimentos.
'Muita gente 'quebrou a cara', confirmou
Romilla Feitosa Wanderley, 40, vice-presidente da Associação Comercial,
que tem uma loja de materiais de construção (Construfort) em Bacabeira.
Natural do município e com um leque de clientes que não se limita à
refinaria, Romilla disse que, ao contrário dos empresários e
comerciantes que vêm de fora, não chegou a ser tão afetada pelas
indefinições da Premium I.
'Calotes da Marza' – Enquanto pequenos
e médios empresários desesperançados deixam Bacabeira para trás, uma
grande empresa, a paranaense Marza Engenharia Elétrica Ltda, que
trabalhou para o consórcio responsável pela terraplanagem da área da
refinaria (GSF - Queiroz Galvão, Serveng e Fidens), foi embora para
Curitiba – sede da empresa – deixando um extenso rastro de 'calotes' no
comércio.
Joel Maquino Silva, 40, proprietário do Restaurante
Serv-Bem, foi uma das 'vítimas' da Marza. A dívida da empresa com Joel
soma R$ 40 mil.
Lula, Dilma, Sarney, Roseana, Lobão e João Alberto no lançamento da expansão da Premium I, com direito a discurso de Sarney.
Tempos depois, a desilusão, com debandada de empresários e retirada de móveis do canteiro de obras, hoje totalmente parado
'Almoçavam no meu restaurante entre 30 a 40 funcionários da Marza por
dia. No início, a empresa pagou direito, mas nos últimos quatro meses
que ficou aqui, de outubro de 2012 a janeiro deste ano, não vi a cor do
dinheiro. E o gerente administrativo da Marza, um tal de Edson, foge dos
cobradores', contou Joel ao JP.
Segundo o comerciante, a Marza
deixou uma dívida maior – R$ 50 mil – em outro restaurante de Bacabeira,
o Boi na Brasa, localizado perto do canteiro de obras da refinaria.
Com Samuel Pereira do Bonfim, 38, dono de um lava a jato, a Marza fez –
e não pagou – uma dívida de R$ 13,6 mil, referente a serviços prestados
no lava a jato (R$ 1,6 mil) e aluguel de um galpão e de uma casa (R$ 12
mil).
Samuel disse ao JP que o máximo que conseguiu do gerente
Edson foi que ele desocupasse a residência alugada, transformada em
depósito de materiais. A desocupação foi prometida para amanhã (25),
quando o gerente viaja de volta para a capital paranaense.
Os
comerciantes lesados já apelaram à diretoria da Petrobras, mas a estatal
os informou que não tem como obrigar a Marza, uma prestadora de
serviços, a pagar os débitos.
Terraplanagem custou mais do que o dobro do previsto no contrato inicial
As obras de terraplanagem da área definida pela Petrobras para instalar
a refinaria Premium I, em Bacabeira (a 66 quilômetros de São Luís),
custaram R$ 789 milhões a mais do que o previsto no contrato inicial –
que era de R$ 711 milhões –, assinado em 14 de julho de 2010 entre a
estatal e o consórcio GSF (Queiroz Galvão, Serveng e Fidens), vencedor
da licitação para tocar os serviços.
Na quinta-feira, o ministro
Edison Lobão (Minas e Energia) e o diretor de Abastecimento da
Petrobras, José Carlos Cosenza, divulgaram o valor gasto na
terraplanagem: R$ 1,5 bilhão – mais do que o dobro do previsto
inicialmente.
Nem Lobão nem Cosenza informou o motivo de o valor ter extrapolado tanto o custo previsto.
O custo total previsto para a construção da refinaria Premium I é de R$
20 bilhões, mas com os chamados termos contratuais aditivos, a obra
deve dobrar de preço – como ocorreu nos serviços de terraplanagem.
A empresa procura parceiros internacionais para viabilizar
economicamente o projeto – como determinou a presidente da estatal,
Maria das Graças Foster. O prazo estabelecido para a decisão sobre a
manutenção da refinaria no Plano de Investimentos da Petrobras 2013-2017
é julho deste ano.
Falta de infraestrutura e de porto adequado também podem inviabilizar Premium I
Além de, por enquanto, ser inviável economicamente, o empreendimento da
refinaria Premium I, de Bacabeira, é também inviável tecnicamente,
segundo um engenheiro portuário ouvido pelo Jornal Pequeno.
Segundo o engenheiro, que prefere não ter seu nome divulgado, a falta de
infraestrutura e de um porto adequado são obstáculos intransponíveis
para a realização do projeto.
Veja alguns trechos do que disse o engenheiro ao JP:
'Para a operação da refinaria, que se propõe a produzir 300.000
barris/dia, há necessidade da construção de um sofisticado porto
petroleiro com, no mínimo sete berços de atracação, cada um com 400
metros de comprimento, totalizando 2.800 metros lineares de cais, a fim
de atender navios Cape Size Light de 160.000 toneladas de arqueação
bruta. Isso demandaria cerca de 15 anos para estudos técnicos e
construção, e a instalação de 1000 km de dutovias de 1 metro de diâmetro
entre Bacabeira e a Bahia de São Marcos (2 para o óleo cru e 8 para
refinados).
Tudo isso passando pelo instável substrato do Campo de
Perizes, onde resultaram sondagens de lama com 70 m de profundidade.'
'Seriam necessários, ainda, complexos estudos de engenharia civil, de
correntes, ventos e marés, morfologia de fundo, manobrabilidade dos
navios em operação de atracação e desatracação, esforços nos cabos de
amarração quando dos navios atracados (em modelo físico e ou
matemático), interferências operacionais dos novos Piers nos portos já
instalados, diga-se no porto do Itaqui, da Ponta da Madeira (Vale),
Alumar etc., sem falar de que o incremento na movimentação de navios na
Baía de São Marcos que passaria dos atuais 1200 navios/ano para cerca de
4.000 navios/ano o que demandaria a duplicação dos atuais 100 Km de
canal de acesso a baía de São Marcos (obra para 10 anos ou mais).'
'Outra obra que demanda estudos complexos e muito tempo para ser
realizada é o plano emergencial de contenção, para o caso de
derramamento de hidrocarbonetos no solo e na água da Baía de São Marcos
em virtude de rompimento dos dutos, de tanques de armazenagem, das
torres de refino, vazamentos nas operações dos navios etc., o que, se
ocorrer, seria uma grande desgraça para o sensível ecossistema da Baía
de São Marcos. Acidentes graves neste tipo de atividade no mundo são
comuns e imprevisíveis.'
'A maioria dos equipamentos da refinaria
é importada, de grande porte, alguns com mais de 700 toneladas de peso
e, infelizmente não tem onde desembarcar. O Porto do Itaqui não tem
condições técnicas/operacionais para tal movimentação.'
'O
ministro Edison Lobão disse, em entrevista publicada no jornal O Estado
do Maranhão, em setembro de 2009: 'Queremos é exportar daqui a quatro ou
cinco anos, não petróleo, mas produtos acabados (...) O petróleo do
pré-sal abastecerá a refinaria'. A que pré-sal o ministro se refere? Se
for o do Sudeste do Brasil – Espírito Santo e São Paulo (Santos) – só
daqui a 15 anos ou mais. Ainda estamos desenvolvendo tecnologia para
prospecções em águas ultraprofundas. Portanto, de onde vem o petróleo
para a refinaria do Maranhão, daqui a quatro ou cinco anos, conforme
assertiva do ministro?'
'Ora, assim como o pré-sal de Lula, a
refinaria do Maranhão nos parece eleitoreira, porém com um agravante de
perversidade para com o sofrido povo da nossa terra. Pena que a
população mais humilde deste estado só vá descobrir o engodo quando
matricular seus filhos em cursos técnicos inerentes à operação de uma
refinaria.
Lembram-se dos cursos na faculdade Uniceuma, do Renascença,
de siderurgia e metalurgia? Onde foram parar esses profissionais? Ainda
esperam a siderúrgica prometida pelos políticos. Vão esperar muito,
infelizmente.'
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